Estava uma noite escura e silenciosa, talvez devido ao facto de não haver ninguém na rua. Mia olhou para o relógio. - Já é tarde. - Pensou.
Precisava de espairecer, de andar, como se isso a libertasse da tristeza que carregava no peito…
Sentia a sua alma só, como um rio sem destino final.
Desde que decidiu deixá-lo, ficou desamparada. Como se o amor que retinha por Manuel no seu coração, fosse a âncora que a impedia de andar à deriva pela vida. Sentia-se à deriva, sem ter onde atracar, sem saber para onde olhar. O seu olhar, que antes era dele, agora perde-se no vazio...
Perdeu-se. Não queria sofrer mais por ele. Chegou à conclusão que Manuel lhe era completamente indiferente.
Mas até isso lhe doía; a indiferença que ele lhe inspirava.
Tentava agarrar a vida mas não sabia com que mão lhe havia de chegar. Talvez com o tempo possa agarrá-la com o coração. Estava perdida dentro de si mesma. O espírito evolui com o sofrimento, ela sabia disso. Gostava de pensar que depois de tudo isto passar se iria tornar uma pessoa melhor.
Mas neste momento viver doía muito. Doía estar à deriva. Sem âncora para se prender a um porto. Sem porto para atracar. Como doía.
Sentia-se sem terra. Quase sem identidade.
Nunca se tinha sentido assim. Só ela. Só ela dentro de si mesma.
Uma mulher…
Os sentimentos pairam sobre ela, vagueiam ao seu lado, voltam, tentam sair, mas não encontram destino fora de si. Ficam em si. O seu peito explode. Não tem a quem dar este tipo de sentir.
Quando deu por si estava na porta do hospital. Era inevitável já estava com saudades dele.
Ficou a olhar para aquelas janelas, em algumas delas ainda se conseguia ver luz.
- Nem toda a gente consegue dormir. - Pensou.
Subitamente como uma força misteriosa começou a andar para a entrada.
- Mas eu não quero ir. - Disse
Impulsionada por essa força, que era mais forte que o seu querer, lá foi ela andando pé ente pé.
Parou de frente para a porta.
Olhou para um lado depois para outro. Não estava ninguém no corredor.
- Melhor assim, não preciso de dar explicações. - Pensou.
Estava na dúvida se devia entrar ou não.
Esteve durante uns segundos sem saber o que fazer.
Voltou as costas à porta e começou a andar no sentido da saída.
Deu vários passos e parou. O seu coração começou a bater descontroladamente.
Ela tinha de ir vê-lo, ela tinha de ir.
Muito silenciosamente voltou-se e foi na direcção da porta, abriu-a e espreitou.
Manuel estava a dormir profundamente.
Mia entrou sorrateira e muito lentamente foi aproximando-se da cama.
Ele manteve imóvel.
Mia sentou-se perto dele e ficou a ouvi-lo respirar, a sentir os movimentos do seu peito, a decorar os seus cabelos na almofada, a linha perfeita do seu queixo de menino, o seu pescoço esticado, os seus dois dedos enrolados no lençol, os seus lábios sonolentos da cor da manhã...
Estava perfeito, como sempre. Por mais que o quisesse esquecer, havia pormenores que nunca na vida iriam desaparecer da sua mente.
Manuel mexeu-se na cama.
Mia ficou estática encostada à cadeira.
Não queria de maneira nenhuma que ele desse pela sua presença. Graças a Deus ele continuou a dormir.
Levantou-se para o ver mais de perto.
Aproximou a sua mão da dele. Muito ao de leve deu festinhas na sua mão.
Ao tocá-lo percebeu a alegria de viver.
Fixou o olhar no seus lábios. Retirou a mão que estava sobre a cama e tocou o seu rosto. Os lábios de Mia começaram a estremecer quase sem força. Como desejava a boca de Manuel naquele momento.
Lentamente foi aproximando-se dele.
Lentamente, lentamente, lentamente…
Os seus lábios já quase tocavam os dele.
Manuel abriu os olhos. Mia assustou-se mas não fez nenhum movimento.
Manuel - Mia…
Mia - Estás a sonhar, sou o teu Anjo da Guarda.
Colocou a mão sobre os seus olhos para os obrigar a fechar.
Manuel voltou a dormir.
Mia olhou para ele e sorriu.
Voltou costas e tal e qual como apareceu, sorrateiramente, saiu do quarto de Manuel e quem sabe da sua vida.
Continua
Precisava de espairecer, de andar, como se isso a libertasse da tristeza que carregava no peito…
Sentia a sua alma só, como um rio sem destino final.
Desde que decidiu deixá-lo, ficou desamparada. Como se o amor que retinha por Manuel no seu coração, fosse a âncora que a impedia de andar à deriva pela vida. Sentia-se à deriva, sem ter onde atracar, sem saber para onde olhar. O seu olhar, que antes era dele, agora perde-se no vazio...
Perdeu-se. Não queria sofrer mais por ele. Chegou à conclusão que Manuel lhe era completamente indiferente.
Mas até isso lhe doía; a indiferença que ele lhe inspirava.
Tentava agarrar a vida mas não sabia com que mão lhe havia de chegar. Talvez com o tempo possa agarrá-la com o coração. Estava perdida dentro de si mesma. O espírito evolui com o sofrimento, ela sabia disso. Gostava de pensar que depois de tudo isto passar se iria tornar uma pessoa melhor.
Mas neste momento viver doía muito. Doía estar à deriva. Sem âncora para se prender a um porto. Sem porto para atracar. Como doía.
Sentia-se sem terra. Quase sem identidade.
Nunca se tinha sentido assim. Só ela. Só ela dentro de si mesma.
Uma mulher…
Os sentimentos pairam sobre ela, vagueiam ao seu lado, voltam, tentam sair, mas não encontram destino fora de si. Ficam em si. O seu peito explode. Não tem a quem dar este tipo de sentir.
Quando deu por si estava na porta do hospital. Era inevitável já estava com saudades dele.
Ficou a olhar para aquelas janelas, em algumas delas ainda se conseguia ver luz.
- Nem toda a gente consegue dormir. - Pensou.
Subitamente como uma força misteriosa começou a andar para a entrada.
- Mas eu não quero ir. - Disse
Impulsionada por essa força, que era mais forte que o seu querer, lá foi ela andando pé ente pé.
Parou de frente para a porta.
Olhou para um lado depois para outro. Não estava ninguém no corredor.
- Melhor assim, não preciso de dar explicações. - Pensou.
Estava na dúvida se devia entrar ou não.
Esteve durante uns segundos sem saber o que fazer.
Voltou as costas à porta e começou a andar no sentido da saída.
Deu vários passos e parou. O seu coração começou a bater descontroladamente.
Ela tinha de ir vê-lo, ela tinha de ir.
Muito silenciosamente voltou-se e foi na direcção da porta, abriu-a e espreitou.
Manuel estava a dormir profundamente.
Mia entrou sorrateira e muito lentamente foi aproximando-se da cama.
Ele manteve imóvel.
Mia sentou-se perto dele e ficou a ouvi-lo respirar, a sentir os movimentos do seu peito, a decorar os seus cabelos na almofada, a linha perfeita do seu queixo de menino, o seu pescoço esticado, os seus dois dedos enrolados no lençol, os seus lábios sonolentos da cor da manhã...
Estava perfeito, como sempre. Por mais que o quisesse esquecer, havia pormenores que nunca na vida iriam desaparecer da sua mente.
Manuel mexeu-se na cama.
Mia ficou estática encostada à cadeira.
Não queria de maneira nenhuma que ele desse pela sua presença. Graças a Deus ele continuou a dormir.
Levantou-se para o ver mais de perto.
Aproximou a sua mão da dele. Muito ao de leve deu festinhas na sua mão.
Ao tocá-lo percebeu a alegria de viver.
Fixou o olhar no seus lábios. Retirou a mão que estava sobre a cama e tocou o seu rosto. Os lábios de Mia começaram a estremecer quase sem força. Como desejava a boca de Manuel naquele momento.
Lentamente foi aproximando-se dele.
Lentamente, lentamente, lentamente…
Os seus lábios já quase tocavam os dele.
Manuel abriu os olhos. Mia assustou-se mas não fez nenhum movimento.
Manuel - Mia…
Mia - Estás a sonhar, sou o teu Anjo da Guarda.
Colocou a mão sobre os seus olhos para os obrigar a fechar.
Manuel voltou a dormir.
Mia olhou para ele e sorriu.
Voltou costas e tal e qual como apareceu, sorrateiramente, saiu do quarto de Manuel e quem sabe da sua vida.
Continua
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